Desde que a conhecemos, de diversos modos, a poesia sempre lidou com o que se fez em ou após uma desolação, uma morte, um luto, uma guerra, uma tirania,
a Shoah, uma epidemia... Lembro-me de alguém que lambuzava seu corpo em cinzas, rolando nela, arrancando os cabelos, ao saber da morte de seu amor do mesmo sexo; lembro-me de outro sujando seu corpo de bosta, lambuzando-a em seu pescoço, quando soube da morte de seu filho; lembro-me de outra, crua, que, enquanto o tirano a lançava à morte, ela se lançava a enterrar seu irmão. Os exemplos seriam intermináveis. Como quem faz um gesto de fratura no tempo, posso lembrar do nosso agora, guardando na memória os que, hoje, procuram um caminho para ritualizar seus mortos; ou as mães de meninos jovens e adultos negros tentando
o impossível de varrer suas dores do coração quando seus filhos e maridos e pais são propositalmente assassinados pela polícia ou pelo exército; ou de todas e todos que são obrigadas e obrigados a fazer esse trabalho, i